Uma vez, durante minha adolescência, em dia comum, li em algum lugar que o passar nos anos vai tirando cada vez mais de nós. E, mesmo que eu não compreendesse totalmente aquilo, no fundo algo em mim despertou com apenas aquela frase e então, há bastante tempo, vivo em minha carne o que é perder um rastro de mim todos os dias em que a dor me consome e o desespero me possui. Vivo em meu ser como é morrer e ressuscitar porque você precisa, mas não por ser minha vontade. Aliás, nunca consegui acreditar no dizer "quero desistir" e sim em seu sentido. Queremos fugir, nos libertar, acordar em outra realidade e acreditar que nosso desejo pode concretizar essa fantasia. Caminhamos em uma estrada reta, sem curvas e que vai nos levando para diversos prólogos de novas histórias que ainda vamos passar. Lembro-me da minha versão inocente em tudo era fácil, normal, bonito e atualmente, assim como você que está lendo, tudo que restou é uma mulher com cicatrizes fundas porque, encarando fixamente meu reflexo, vi quantos pedaços de mim perdi e o quanto isso é irreversível. Eu ouço de alguns: "você é muito forte" - e tudo bem, eu reconheço. Mas a força custa, sufoca, joga você contra todas as suas batalhas e não liga para seus danos. E, depois disso, quando vê, mais uma camada de perturbações está criada. Temos que ser incansáveis mesmo que já tenhamos perdido as partes mais importantes e nem que precisemos rastejar porque, do contrário, vamos ser devorados pelos monstros que nos rodeiam e nunca mais teremos a chance de resgatar os cacos e costurá-los em seu devido lugar.
